Ao olhar pra trás, vi a Ísa se despedindo dos meus avós,
esperei ela acabar pra ajudá-la com a malas.
"Ísa,
quer aju..."
Ela me
interrompeu. "Não fala comigo."
"Oi,
Helô."
"Muito
menos você."
Meu
avô foi ajudá-la com as malas e eu passei as mãos pelo cabelo, bufando.
"Vai
ficar tudo bem entre vocês, uma hora ou outra." Bagunçou meu cabelo e
sorriu. "E um dia ela fala comigo." Riu.
Meu
primo não demorou a chegar, fui na frente com ele e Ísa emburrada atrás. Foram
17 horas sem ouvir a voz dela, eu até tentei puxar assunto, mas ela estava
irredutível. Pegamos um táxi até a casa dela, os pais dela não estavam e Loren
estava com a babá que tinham contrato pra enquanto a Ísa não estivesse.
"Loren?"
Ela chamou depois de encostar as malas.
"Helô!"
Veio da cozinha, indo até ela, mas seu caminho mudou ao me ver.
"Cody!" Pulou no meu colo.
"Que
ótimo, minha própria irmã me ignora quando eu chego." Balançou a cabeça e
subiu, batendo a porta de seu quarto.
Loren
e a garota que estava aqui me olharam assustadas.
"Ela
é sempre assim?" Perguntou.
"Só
quando está brava ou algo da errado."
"Celebridades."
Ela revirou os olhos.
"Porque
ela está brava?"
"Primeiro
por algo que você não entenderia e segundo por você não ter dado oi pra ela
direito."
"Eu
vou lá dar, é que eu pensei que você não ia voltar."
"Vou
ficar por pouco tempo, pequena."
"Mas
você vem viajar pra cá?"
"Talvez
eu venha."
"Vem,
todo mundo gosta de você aqui."
"Ok,
eu venho, posso trazer minha irmã pra você conhecer quando eu vier?"
"Ela
é pequena?"
Ri.
"Pequena ela é, mas ela tem a idade da sua irmã."
"Ah...
Ninguém tem irmãos mais pequenos?"
"Meu
amigo tem."
"Traz
eles também."
"Garotinha,
já acabou de comer o treco que me pediu?" A tal babá perguntou.
"Não.
Está ruim, eu não gostei, o da minha irmã fica melhor."
"Então
pede pra ela fazer, mimada."
"Olha
como fala com ela." Disse e olhei pra Loren. "O que você queria?"
"Panquecas."
"Eu
faço pra você. E a senhorita, pode ir embora." Peguei minha carteira do
bolso, tirei uma quantia e entreguei pra ela. "Tem algum contrato?"
Ela me
entregou, o assinei e deixei na mesa de centro. Coloquei Loren no chão e abri a
porta pra que ela saísse, assim ela fez. Fomos pra cozinha, fiz as panquecas,
derreti chocolate no fondue e servi pra nós.
"Está
uma delícia." Ela disse.
"Sou
um bom cozinheiro?"
"Hm...
Sim! Chama minha irmã pra comer também."
"Acho
que ela não vai querer, que tal depois de comer, você subir pra falar com ela?"
"Eu
vou." Sorriu.
"Cadê
seus pais?" Comi um pedaço da minha panqueca.
"Eles
foram comemorar o aniversário, minha mãe disse."
"Então
é provável que eles demorem."
Ela
deu ombros. "Eu vou chamar minha irmã."
"Ok."
~ POV Heloísa Dobrev ~
Estava
deitada com a cabeça afogada no travesseiro quando senti alguém subindo devagarzinho
na cama, olhei pra trás e Loren estava lá.
"Ísinha,
você ficou brava comigo?"
"Fiquei
chateada, poxa você foi dar oi pro Cody antes de dar pra mim."
"Eu
achei que ele não ia voltar." Fez beicinho. "Mas eu senti muito a sua
falta, viu?"
Suspirei.
"Eu também, pequenininha." Aconcheguei ela nos meus braços.
"Você
ainda está triste?"
"Não
é com você."
"Com
quem é?"
"Deixa
isso pra lá." Sorri. "E essa boca de chocolate?"
"Cody
fez panqueca com chocolate, está gostoso."
"O
Cody fez?"
Ela
assentiu.
"E
a babá que estava aí?"
"Ela
era chata, Cody pagou e ela foi embora."
"Ele
pagou?"
"Pagou."
Respirei
fundo. "Vamos descer?"
"Vamos."
Cody
estava comendo na cozinha, Loren sentou de frente pra ele, onde seu prato
estava.
"Quer
comer?"
"Não,
vamos conversar ali na sala."
Prontamente,
ele se levantou e veio pra sala comigo.
"Por
que diabos pagou a babá?"
"Pra
ela ir embora?" Ele disse num tom óbvio. "Ela chamou sua irmã de
mimada."
"Não
precisava ter pago." Suspirei. "Quanto foi?"
"Não
precisa me pagar."
"Então
eu pago sua passagem pra Los Angeles."
"Assim
eu vou achar que está me mandando embora."
Revirei
os olhos.
"Chega
de discutir por dinheiro." Ele disse. "Mas, pelo menos, você falou
comigo."
"Não
vai se animando." Voltei pra cozinha e sentei ao lado da Loren. "Cadê
a mamãe e o papai?"
"Saíram
pra comemorar."
"Ah..."
A
campainha tocou, Cody estava de pé e foi abrir, antes que eu pudesse enxergar
quem era, ele caiu no chão ao levar um soco despreparado, mas tratou de logo se
levantar.
"Fica
aqui." Disse pra Loren e fui até a sala.
Tentei
apartar a briga, mas os dois estavam rolando no chão da sala, tinha que chamar
a atenção de algum jeito, peguei o copo de vidro que estava na mesinha e joguei
no chão, dando um grito em
seguida. Os dois pararam pra me olhar.
"CHEGA!
Que merda vocês estão fazendo? Levantem daí e ajam feito dois homens, porque
desse jeito parecem dois animais."
"Só
nós estamos agindo feito animais?" Thomas ajeitou o terno.
Fechei
a porta de entrada. "O que quer dizer?"
"Que
você também parece um animal, uma cadela no cio que se joga pra qualquer
cachorro que aparecer."
"Olha
como fala com ela, filho da puta." Cody ia pra cima dele, mas me meti no
meio.
"Leva
a Loren lá pra cima e vai junto com ela."
"Mas..."
"Sem
"mas"."
Ele
fez o que eu pedi, indo buscar a Loren e subindo depois. Passei as mãos pelo
rosto enquanto meus olhos ferviam de raiva.
"Só
não meto a mão na sua cara porque eu te respeito."
"Se
respeitasse, não me trairia."
"Você
pensa que eu sou besta? Eu sei muito bem que você já me traiu várias vezes. Eu
sempre chegava nas festas com você e, quando eu ficava sozinha por algum
motivo, as pessoas falavam comigo, todas sobre você e a sua pegada, e sabe o
que eu fazia?"
Me
interrompeu. "Isso não vem ao caso, estamos falando de você, isso foi
pú..."
"Cala
a boca e me escuta!" Respirei fundo. "Eu engolia um seco toda a vez
que ouvia algo, eu sofria em silêncio, nunca sequer abri minha boca pra
reclamar algo pra você e agora você vem dar showzinho? Talvez eu tenha te
traído por você não dar conta do recado."
"E
além de tudo, agora eu não dou conta do recado?" Ele disse com ar de
deboche. "Porque não volta pra aquele cantorzinho filho da puta, então?"
"Finalmente
você está me mostrando quem é Thomas Grommer." Bati palmas. "Meus
parabéns, meu amor." Disse com sarcasmo.
Ele me
encarou com os olhos semi-cerrados, um olhar frio fixo no meu. "Você
também está mostrando quem é Heloísa Dobrev. E sabe o que ela é? Uma puta assim
como as outras."
Acabei
não aguentando e dei um tapa na cara dele. "Presta bem atenção em como
fala comigo." Levantei o dedo indicador enquanto torcia meus lábios.
Uma
das mãos sob o local que eu tinha acertado, a livre segurou meus pulsos juntos.
"Como você faz isso?"
"Simples,
quer que eu faça de novo?" Tentei soltar meus pulsos. "Você está bêbado,
fora de si!"
Ele
balançou a cabeça e continuou me segurando, seus lábios foram pro meu pescoço
com brutalidade. Depois de me soltar, ele puxou minha camisa, arrebentando todos
os botões.
"PARA!"
Empurrei ele. "SAI DA MINHA CASA AGORA MESMO!" Berrei.
"Eu
não vou sair."
Peguei
um enfeite de vidro, fui um pouco pra trás e taquei na direção dele, mas errei
por conta das lágrimas que embaçavam meus olhos. Ele riu e saiu, batendo a
porta. Me joguei no sofá com a cabeça afogada na almofada e berrei, mas o grito
foi abafado por ela. Sentia as lágrimas frenéticas escorrendo por meu rosto
junto com o rímel. Minha cabeça estava um turbilhão de emoções, tudo estava
girando lá dentro, palavras, sentimentos, cenas... Levantei do sofá e subi as
mãos pelo cabelo.
"Está
tudo bem?" Cody disse do meio da escada.
"Me
deixa..." Subi as escadas, me esbarrando com ele.
Fui
pro meu quarto e entrei direto no banheiro, apoiei os braços na pia e encarei a
mim mesma. Estava péssima, meu rosto estava preto, minha camisa arrebentada...
Péssima por fora e por dentro. Prendi meu cabelo, enchi minhas mãos com água da
torneira e joguei em meu rosto, o limpando com extrema raiva.
"Você
não vai me humilhar, não vai!" Praticamente cuspi as palavras.
Era
impossível pra mim parar de chorar, tirei o resto da camisa que tinha sobrado e
me joguei na cama.
~ POV Cody Simpson ~
Loren
estava assustada sentada na minha cama com os joelhos dobrados e a cabeça
encostada neles. Parei escorado no batente da porta.
"Sua
irmã está bem, fica calma."
"Mas
teve barulho... E grito..."
"Agora
está tudo bem, pequena."
"Mesmo?"
"Mesmo."
"Promete
que não vai mais acontecer?"
"Pelo
menos por hoje não."
"Cadê
a Ísa?"
"Está
no quarto, deixa ela sozinha um pouco, ok?"
Ela
assentiu.
"Quer
ver tv?"
"Desenho?"
"O
que quiser ver."
Deitei
do lado dela e liguei a tv no canal de desenho.
"Faz
carinho como a Ísa faz?"
"Como
é?"
"Ela
mexe no meu cabelo, assim." Me mostrou.
Fiz o
que ela pediu enquanto víamos o desenho, estava quase dormindo quando escutei
falarem na porta do quarto, olhei pra lá e os pais dela tinham chegado.
Levantei sem me mexer muito pra não acordar a Loren.
"Oi."
Disse e cumprimentei eles.
"Oi,
Cody."
"O
que aconteceu por aqui?"
"Pergunta
por causa da sua sala, da Ísa não estar aqui ou da Loren estar aqui?"
"De
tudo." Riu.
"Teve
uma discussão entre a Ísa e o Thomas, não sei bem o que aconteceu, mas algumas
coisas se quebraram, dai a Loren se assustou e eu trouxe ela aqui enquanto a
Ísa está trancada no quarto."
"Meu
Deus! Perdemos muita coisa por aqui, querido."
"Eu
até tentei falar com ela, mas ela se negou." Cocei a nuca. "Nós não
estamos muito bem."
"Como
não? Eu vi o vídeo de vocês na Austrália."
"Estávamos
bem até essa minha brilhante ideia de postar o vídeo." Sorri, mesmo
desapontado.
"Ah,
sinto muito..."
"Cody,
isso não deve ser definitivo." George disse. "Pelo que a Elisa me
contou, vocês sempre acabam voltando."
"Mas
eu vou embora, vou voltar pra Los Angeles e, pelo visto, vou sozinho."
"Tudo
pode mudar." Colocou uma mão sobre meu ombro.
"Não."
Balancei a cabeça. "Amanhã vou comprar minha passagem, pretendo embarcar
de noite."
"Não
pode ficar mais, querido?"
"Eu
já levei um fora, tia, acho que não quero me magoar mais, ainda mais aqui tendo
o noivo dela..."
"Sinto
muito, meu amor." Me abraçou.
"É
a vida, tia... Queria muito poder fazer sua filha feliz outra vez."
"Talvez
esse não seja o fim."
Dei
ombros.
"Vocês
já jantaram?"
"Fiz
panquecas, mas apenas eu e a Loren comemos."
"Minha
filha não está bem." Ela balançou a cabeça. "Vou falar com ela."
Seguimos
pra porta do quarto dela junto com a Elisa, ela bateu e ninguém respondeu. Pela
segunda vez, ela disse pra irmos embora, sua voz remetia choro, tinha certeza
de que ela estava chorando. Os dois tiraram a Loren do meu quarto e eu fui
tomar um banho pra dormir. Me olhei no espelho, meu olho estava roxo e o canto
de minha boca sangrando. Estanquei o sangue com água e algodão, me troquei e
deitei pra dormir, como pensei, não consegui pregar o olho. Resolvi mandar uma
sms pra Ísa.
Cody: "Tudo bem por aí?"
Ísa: "Não enche." Respondeu depois
de alguns minutos.
Cody: "Por favor, Ísa... Estou preocupado com
você."
Ísa: "Me deixa, eu já tenho problemas o
suficiente."
Cody: "Eu não quero te dar mais."
Ísa: "Você me deu os primeiros."
Cody: "Desculpa, eu não queria ter estragado
sua vida..."
Joguei
o celular na cama e me ajeitei pra tentar dormir, a sorte foi logo ter
conseguido. No outro dia, não saí quase do quarto, as únicas vezes foram pra
comer e pra encontrar o Flo.
"E
ae, Cody, que cara é essa?" Fez um toque comigo.
"Não
deu certo."
"O
que?"
"O
vídeo, ela não gostou de eu ter colocado na internet, daí o noivo brigou com
ela e agora ela está trancada no quarto."
"Ísa
difícil..."
"Demais."
"O
que você vai fazer?"
"Vou
voltar pra Los Angeles."
"Sério?"
"Sim,
eu não posso ficar mais aqui, Flo... Eu estou sofrendo por ela estar com outro,
por me evitar."
"Ah,
cara... Sinto muito por vocês."
"Eu
também." Balancei a cabeça. "Vamos até o aeroporto? Preciso comprar
minha passagem."
Ele
concordou e me acompanhou até lá, comprei o voo das 18h e voltamos pra perto da
casa dos Dobrev.
"Amanhã
eu volto até aqui e tento falar com ela, te mantenho informado."
"Ótimo."
Disse e olhei pro relógio em meu braço. "São 3h, melhor eu entrar, arrumar
umas coisas que estão no meio..."
"Fica
de boa, bro, vocês sempre voltam."
"Não
sei se dessa vez, mas... Vou deixar à mercê do destino, não tem mais nada que
eu possa fazer." Suspirei. "Bom, até o começo do trabalho novamente."
"Até,
fique bem."
~ POV Heloísa Dobrev ~
Passei
o dia inteiro no quarto, minha barriga roncava de fome, chegando até a doer,
mas eu não estava nem um pouco preocupada com isso. Eram 16h50 quando olhei
pela primeira vez no relógio, logo em seguida, ouvi alguém bater na porta.
"Estou
indo embora, pode abrir pra eu me despedir?"
Respirei
fundo e me levantei pra abrir, voltei pra cama e esperei ele entrar.
"Você
está pálida..."
"Eu
sei."
"Tem
que comer algo."
"Não
quero."
Ele
suspirou e parou em frente à cama. "Bom, é... Eu estou indo embora e,
preciso te perguntar pela última vez, é isso o que você quer?"
Abaixei
a cabeça.
"Eu
te disse lá no início que se você dissesse que me ama ao fim, eu lutaria por
você, e se dissesse que não me ama, eu não te procuraria mais, te deixaria
livre." Suspirou novamente. "O que tem pra me dizer?"
"Eu
não posso te amar, sendo assim, pode voltar pra L.A... Sozinho."
Ele
assentiu, nitidamente decepcionado, e meu coração se partiu. "É esse o fim?
O nosso fim?"
Assenti,
com as lágrimas transbordando em meus olhos. Ele veio até mim e me abraçou
apertado, porém rapidamente.
"Obrigado
por tudo... E adeus." Um sorriso decepcionado se formou em seu rosto e ele
caminhou até a porta.
Assim
que ele a fechou, fui até lá pra trancá-la, escorei na porta e senti as
lágrimas desabarem pelo meu rosto. Esse talvez fosse o fim de uma longa
história, talvez nem o visse mais ou sabe-se lá quando o veria...
"Filha,
abre essa porta..." Ouvi minha mãe dizer do outro lado da porta.
"Eu
já desço." Disse entre soluços.
"Você
tem que comer algo, meu amor."
Destranquei
a porta, mas custei pra levantar, e quando o fiz minha vista escureceu e minha
barriga roncou de fome. Abri a porta e minha mãe me acompanhou até o andar de
baixo, no último degrau senti meu corpo estremecer e acabei perdendo o comando
dele, tudo se escureceu novamente, mas dessa vez não voltou. [...] Acordei em
um quarto, que parecia ser de hospital, sentia minha cabeça girar, fui
virando-a lentamente até encontrar minha mãe e Loren no canto do quarto.
Conseguia ver meu braço também, e um balão de soro estava ligado nele.
"Mãe?"
"Como
está se sentindo, meu amor?" Arrumou minha irmã no sofá e veio até mim.
"Mal..."
"Eu
disse que você tinha que comer." Acariciou meu cabelo.
"Eu
não estava com vontade..."
"Isso
é pelo Cody ou pelo Thomas?"
"Pela
junção dos dois."
"Isso
não fez bem pra você, falo de ter ficado sem comer e do seu noivado. Cadê minha
menina cheia de brilho que chegou aqui na França pra recomeçar a vida com o
melhor que desse?"
"Ela
deve ter se perdido no meio do caminho."
"Você
tem que encontrar ela, eu sinto falta dela."
"Eu
também sinto."
Ela
suspirou. "Porquê se decidiu pelo Thomas? O Cody veio até aqui disposto a
recomeçar com você, enquanto o Thomas não dá uma dentro."
"Eu
não sei... Não quero deixar minha vida aqui e eu fiquei puta com o vídeo, ele
manchou a minha imagem e a do Thomas, eu fiquei como puta e ele como
corno." Pausei rapidamente. "Vamos parar de falar disso?"
"Como
quiser." Deu um leve sorriso.
"Quero
ir pra casa."
"O
médico vai te liberar assim que o soro acabar, George está na sala de espera."
"Ele
estava com o Cody no aeroporto?"
"Sim,
ele ia esperá-lo decolar, mas assim que eu liguei, ele veio pra cá."
"Falando
em pai, você sabe alguma coisa do meu pai?"
"Ele
e sua irmã vão vir pra cá no fim da semana, então ele deve estar bem."
"A
Nina vem também?"
Ela
assentiu.
"Sermão
me espera..."
"Não
posso discordar." Riu de leve.
Depois
de o soro acabar, minha mãe foi avisar a enfermeira e ela veio até o quarto com
o médico, que assinou minha alta.
"Eu
não preciso disso." Disse me referindo à cadeira de rodas que ele tinha
trazido.
"Precisa
sim, senhora, ainda está fraca." Me estendeu a mão pra que eu levantasse
da cama e me ajudou a sentar na cadeira. "A senhora consegue
levá-la?" Perguntou pra minha mãe, por ela estar com minha irmã no colo.
"Pode
me ajudar até a recepção? Meu marido está lá."
"Claro."
"Eu
não queria estar dando trabalho, gente."
"Não
é trabalho nenhum, mocinha." O médico disse ao passarmos a porta.
"Trate de se cuidar agora e, principalmente, se alimentar."
"Pode
deixar."
Na
sala de espera, meu pai assumiu o controle da cadeira após beijar minha testa.
Descemos até o estacionamento seguidos por uma enfermeira, ela pegou a cadeira
assim que me aconcheguei no banco de trás do carro. Loren deitou a cabeça no
meu colo e logo estava dormindo novamente.
"Foi
só um desmaio por fome mesmo, senhorita Heloísa?" Meu pai perguntou ao
parar no farol.
"Claro,
pai, o que mais seria?"
"Não
sei... O Cody andou me contando umas coisinhas enquanto estávamos no
aeroporto." Pausou. "Ah, e ele ficou preocupado com você."
Abri
um leve sorriso, olhando pra baixo, mas não disse nada.
"Entendo
o que quer dizer, querido, mas foi só pela fome mesmo." Minha mãe riu de
leve.
"Não
sei não, mas vamos ver."
"Sai
dessa, pai, não foi nada de mais."
Ao
chegarmos em casa, minha mãe fez uma sopa e me fez comer até ver o fundo do
prato. Meus olhos já estavam fechando novamente, então subi pra dormir, já que
no dia seguinte teria que trabalhar. Estava bem mais disposta pela manhã, tomei
um banho, arrumei o cabelo, vesti uma camisa transparente preta com tachinhas
douradas, uma saia cintura alta branca, um salto preto e fiz um make leve nos
olhos, mas com batom vermelho pra realçar. Tinha que chegar de cabeça erguida e
encontrar o Thomas de cabeça erguida. Tomei rapidamente café, entrei no meu
carro e rapidamente estava na empresa. Mal entrei na empresa e todos já
comentavam algo, respirei fundo e continuei meu caminho.
"Diva!"
Alex veio correndo em minha direção e me abraçou. "Que saudades, você está
linda!"
"Obrigada,
querido! Também fiquei com saudades."
"E
eu não estou lindo?"
"Claro
que está." Ri.
Fui
pra minha mesa e ele pra dele, elas eram bem próximas, o que nos possibilitava
colocar a conversa em dia. As
duas garotas que eu não suportava e nem elas me suportavam, chegaram rindo e
foram pras suas mesas.
"Ora,
ora, olha quem voltou das férias." Uma delas riu.
"Uma
hora dessas, elas vão levar um soco bem dado."
"Se
acalma, respira fundo e não se abala."
"As
brincadeirinhas foram muitas enquanto eu não estava?"
"Apenas
quando saiu o vídeo, mas a chefe quer falar com você."
"Vou
simplesmente fazer meu trabalho, talvez depois ela me procure ou nem procure."
Ele
deu ombros. "Vai saber..."
Estava
trabalhando tranquilamente, vendo meus emails de dias anteriores, tinham alguns
pedidos de trabalhos e tudo mais, estava quase acabando quando tudo se
silenciou, ouvia apenas saltos batendo, vindo em minha direção. Ao levantar os
olhos, vi a senhora com cabelos loiros curtos e muito elegante, só tinha a
visto 3 vezes ali, era a chefe superior, a dona da revista.
"Não
te deram o recado de que eu queria falar com você, senhorita?"
"Deram,
mas é que..."
Me
interrompeu. "E por que não foi pra porta da minha sala na mesa hora? Você
tem algum tipo de demência?"
Me
levantei. "Quer que eu vá pra lá agora?"
"Com
toda a certeza, além de puta, é burra."
"Olha
aqui..."
Novamente
eu fui interrompida. "Olha aqui você, cala essa boca e me escuta, por que
aqui dentro você não é ninguém!" Seu olhar era frio e meus olhos começaram
a queimar. "Sabe por que você está aqui? Por causa do Thomas, apenas por
causa dele, eu nem precisava de alguém trabalhando aqui, muito menos de você,
Heloísa Dobrev... Puta, mimada, incompetente e, ainda por cima, manchou o nome
da minha revista. Além de que acha que, por ser irmã de uma atriz famosa, pode
escolher quando trabalhar ou quando voltar ao trabalho. Era pra você estar aqui
há uma semana, UMA SEMANA, e quando você me aparece? Quando eu não preciso de
você. Eu não preciso mais de você, minha revista não precisa de você, ninguém
precisa de você por aqui. Pega essa droga toda da sua mesa e leve pra longe daqui,
sua putinha."
Em
apenas um gesto, todas as coisas da minha mesa foram pro chão, inclusive meu
notebook, do qual ela estourou a tela com o salto agulha. Todos estavam me
olhando, eu não sabia onde enfiar minha cara, não sabia o que fazer, só tinha
certeza de que não podia chorar ali.
"Mande
alguém vir pegar sua demissão amanhã e nunca mais volte a pisar aqui. Me
entendeu?"
"Sim,
senhora."
Ela
foi pra sua sala, todos viraram seu olhar pra mim.
"ESTÃO
OLHANDO O QUE, CARALHO?"
Alex
pegou uma sacola que estava em suas coisas e me ajudou a tirar tudo do chão e
das gavetas.
"Eu
sinto muito." Ele me abraçou ao chegarmos no estacionamento.
"Não
sinta... E obrigada."
"Mais
tarde eu passo na sua casa, ok?" Beijou minha testa.
"Ok,
Alex."
"Ai,
eu não aguento te ver assim." Me abraçou forte, segurei as lágrimas pra
não chorar ali mesmo.
"É
melhor eu ir, até depois." Beijei seu rosto.
Coloquei
a sacola no banco do passageiro e entrei no carro. Acenei pra ele e saí o mais
rápido que pude daquela empresa. Dirigia rápido pelas ruas e nem percebi o
sinal fechado, o que quase me fez bater, meu coração pulou do meu peito ao
brecar e ver que nada tinha acontecido. Em menos de 5 minutos estava em casa,
entrei já com as lágrimas caindo sem cessar, chorava desesperada e minha mãe
veio da cozinha me fazendo várias perguntas, só consegui abraçá-la.
"Pelo
amor de Deus, o que aconteceu?"
"E-eu
sou um lixo, mãe." Disse entre soluços.
"Claro
que não." Tirou o cabelo que caía sobre meu rosto. "Porquê está
dizendo isso?"
"Porque
eu sou, eu não faço porra nenhuma direito, todos tem razão eu sou apenas uma
puta irmã da Nina."
"De
onde você está tirando essas coisas, Heloísa? Você não é uma puta."
"A
chefe..." Ainda estava entre soluços e lágrimas. "... ela me demitiu,
disse que eu só estava lá por causa do Thomas, que eu era uma puta e incompetente
na frente de todo mundo."
"Como
ela faz isso?" Me olhou perplexa. "O que seu noivo disse?"
"Eu
não vi ele, a única pessoa que me ajudou foi o Alex..."
"Meu
amor..." Me abraçou novamente. "Eu sinto muito, muito mesmo."
Beijou minha testa. "Mas de uma coisa eu tenho certeza, se essa mulher
disse todas essas coisas pra você, ela não merece nem as suas lágrimas."
Limpei
as lágrimas, mas foi o mesmo que nada. "Eu não consigo..."
"É
claro que consegue." Limpou minhas lágrimas. "Ergue sua cabeça, você
não tem que ficar desse jeito."
Estava
sentada no sofá com a cabeça encostada no ombro da minha mãe quando o telefone
tocou, ela levantou pra atender. Não consegui entender o que ela falava, ela
anotou algo e me olhou parecendo surpresa ao desligar.
"O
que foi?"
"Eu
não sei como te dizer isso."
"Isso
o que? Aconteceu alguma coisa com o Cody?" Perguntei a primeira coisa que
veio na cabeça.
"Com
o Cody não... Com o Thomas, sim."
"O
que aconteceu?" Levantei.
"Ele
deu entrada no hospital ontem de madrugada."
Levei
as mãos à boca, balançando a cabeça. "É culpa minha..."
"Claro
que não, filha!"
"É
sim, ele bebeu por minha causa." Passei as mãos pelo rosto. "Tem o
endereço do hospital?"
"Está
aqui." Me mostrou o papel.
"Eu
vou me trocar e vou pro hospital."
Subi
sem deixá-la dizer nada, tomei um banho rápido, coloquei uma roupa bem mais
confortável, deixei o rosto sem make e desci. Peguei o endereço e fui pro meu
carro, fui fotografada ao descer e entrar no hospital.
"Oi,
bom dia..." Disse na recepção.
"Bom
dia." Sorriu.
"Eu
quero saber sobre Thomas Grommer."
"A
senhora é da família?"
"Sou
noiva dele, me ligaram agora pouco pra falar sobre ele estar aqui."
"Ah
sim, pode me dar sua identidade?"
Entreguei
meu documento e esperei até ela me entregar um crachá de identificação e a
ficha dele junto com meus documentos.
"Pode
preencher pra mim, senhorita Dobrev?"
"Com
o que eu souber, sim."
Não
sabia tanta coisa sobre ele, não sabia se tinha alergias e tantas outras
coisas... Logo depois, fui levada por uma enfermeira pro quarto dele. Alguns
arranhões estavam por seu corpo todo, o pior era num dos ombros. Sentei na
cadeira ao lado da cama dele.
"Desculpa
por isso, anjo..." Abaixei a cabeça. "Desculpa por tudo, na verdade."
Fiquei
acariciando a mão dele, esperando que ele acordasse, já que não estava em
estado de coma. Ele foi acordar mais ou menos uma hora depois.
"Oi..."
Me olhou.
"Oi..."
Dei um sorriso torto. "Está tudo bem?"
"Sinto
meu corpo todo doer, mas estou bem." Riu de leve e acariciou minha mão.
"Sinto muito..."
"Eu
que sinto, não deveria ter te traído, desculpa..." Abaixei a cabeça.
"Eu
fui o errado, Helô, te traí várias vezes, fui incapaz de notar a mulher
incrível que eu tenho, não te dei o valor merecido e sei bem disso, agora eu
vejo que o que eu tenho muitos outros querem e eu posso ter perder uma hora ou
outra, se não abrir meus olhos e começar a te dar valor."
Abri
um pequeno sorriso, mas não disse nada, então ele continuou.
"Eu
prometo que serei um homem melhor pra você, eu vou mudar se ainda quiser ficar
comigo. Você quer?"
"Me
promete que vai mudar?"
"Prometo,
até juro..." Beijou minha mão. "Daqui 4 meses a gente casa."
Suspirei.
"Acho melhor nós adiarmos um pouco o casamento, eu percebi que eu não sei
coisas sobre você que eu deveria saber, a gente não se conhece tão bem... Nem
sobre a sua família eu sei."
Ele
suspirou. "Quer mesmo saber?"
"Quero."
"Tudo
bem, eu vou te contar... Eu nasci em Seattle, minha família era grande, tinha
três irmãos mais novos e um mais velho, esse meu irmão apanhava dos meus pais e
nós também, ele sempre me dizia que, quando ele se fosse, isso iria ficar pra
mim. Eu nunca havia sido muito certinho, no colégio eu era um dos bagunceiros,
meus pais odiavam isso. Não tínhamos uma condição de vida boa, nossa casa era
muito velha e tinha um porão, não via meu irmão haviam dois dias, então fui até
esse porão." Cerrou os olhos e apertou minha mão. "Ele estava lá,
jogado no chão com várias bebidas e medicamentos ao lado do corpo dele, permaneci
ao lado do meu irmão, ou do corpo dele, me julgando pela família que tínhamos,
ele era meu melhor amigo, a única pessoa com que eu sabia que poderia contar a
hora que fosse e para o que fosse. De certa forma, meus pais tiraram a vida
dele, o enlouqueceram e o mataram aos poucos... Isso quase aconteceu comigo,
mas eu fugi a tempo, saí em uma noite fria e escura com a bicicleta que meu
irmão tinha deixado. Tinha pouco mais de 200 reais no bolso e usava o dinheiro
pra me alimentar, fui parar numa cidade pequena, todos os dias comia em um bar
ali, posteriormente consegui um trabalho ali e um teto, dormia no bar depois de
fechá-lo. Trabalhei até meus 19 anos, não gastava meu salário com nada e tinha
uma boa quantia, comprei minha passagem pra França e voltei a trabalhar em um
bar, ganhei uma bolsa em uma faculdade, estudava feito um louco até o John
começar a frequentar esse bar e me treinar pra um trabalho. Desse jeito,
consegui ser o que eu sou hoje, uma pessoa fria, mas com poder, o garoto com
sonhos dentro de mim se foi junto com o Mike."
Meu
corpo estava totalmente arrepiado com o que acabara de ouvir, não conseguia
acreditar que por trás dessa armadura, tinha um garoto que havia sofrido,
sofrido muito... Algumas lágrimas caíram de meus olhos, não sabia nem o que
dizer pra ele, mas uma dúvida ainda batia.
"Porquê
não me disse antes? Porquê mentiu sobre sua origem? Me disse que tinha vindo de
Washington..."
"Pra
você não sentir pena de mim, pra não achar que eu era um pobretão."
Beijei
a mão dele e acariciei seu cabelo. "Eu sinto muito por tudo o que
aconteceu... Eu nem imaginava que tinha passado por isso."
"Posso
te pedir segredo?"
"Vou
levar seu segredo comigo, não vou contar pra ninguém."
Ele
deu um leve sorriso. "Por isso eu não quero filhos, seria o pior pai do
mundo."
Bateram
na porta, era o médico que estava cuidando dele. Ele o examinou e escreveu
algumas coisas.
"Precisa
descansar um pouco, senhor Grommer, procure dormir depois de almoçar."
Ele
assentiu. "Minha noiva não tem que sair, não é?"
"Na
verdade, é o melhor, mas pode ser depois do seu almoço."
"Depois
eu volto, anjo."
"Espera
o almoço?"
Assenti.
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Oi gente, desculpem a demora, mas pra compensar, o capítulo está grandinho pakpakspkpask O que acharam do capítulo? Da ida do Cody? Da humilhação na empresa? Da briga com o Thomas? Da confissão dele? Comentem bastante, tá? CONTINUO COM +10 COMENTÁRIOS, COMENTEEEM, XOXO <3